quinta-feira, 12 de maio de 2011

...duplicidade...

E todos os dias choro a dor de minhas punhaladas em ti, e ei de chorar eternamente, pois eternamente ei de estar te ferindo, continuamente.
Eu que tantas coisas vivi e de tantos cálices bebi, hoje estou aqui, nessa espiral torturante que me corta por te cortar.
Ao olhar um jardim de rosas, admirado com a beleza, dum penhasco me joguei, sem saber que rosas abrigam espinhos. Cada centimetro do meu corpo sente agora as consequências da imprudência.
Até quando? Até quando?
Até quando continuarei com essa espada de dois fios na mão? Até quando terei dois berços? Dois colos? Duas palavras?
Quando deixarei de experimentar o meu sangue junto ao teu?

"Nasce uma ave, e é embelezada por seus ricos enfeites.
Não passa de flor de plumas, ramalhete alado, quando veloz cortando os salões aéreos recusa piedade ao ninho que abandona em paz.
E eu, tendo mais instinto, tenho menos liberdade?
Nasce uma fera, com uma pele respingada de belas manchas, que lembram estrelas. Logo, atrevida, feroz, a necessidade humana lhe ensina a crueldade!
Monstro de seu labirinto!
E eu, tendo mais alma, tenho menos liberdade?
Nasce um peixe, aborto de ovas e lodo, enfeita um barco de escamas sobre as ondas.
Ele gira, gira, por toda a parte, exibindo a imensa liberdade que lhe dá um coração frio!
E eu, tendo mais escolha, tenho menos liberdade?
Nasce um riacho, serpente prateada, que dentre flores surge de repente, de repente. Entre flores ele se esconde, e como músico celebra a piedade das flores que lhe dão um campo aberto á sua fuga!
E eu, tendo mais vida, tenho menos liberdade
?"

E todos os dias choro a dor da prisão de minhas punhaladas...

Bjoo
D.


Um comentário:

  1. O monólogo de Segismundo tem tudo a ver com o nosso destino de anjos caídos, não é? bjs!

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